Por que a Bukan? — Yaron Lichtenstein

cavername
3 min readOct 31, 2019

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O iniciante de krav-maga pode não se dar conta, mas quem já pratica há algum tempo fatalmente vai se perguntar em algum momento: estou na escola certa?

Há muitas organizações dizendo que ensinam krav-maga, e uma pesquisa superficial já basta para perceber que elas estão separadas por diferenças — às vezes sutis, mas na maior parte das vezes gritantes — de linguagem corporal, técnicas, uniformes e sistemas de graduação.

Para cada uma dessas organizações (e toda hora aparece uma nova…) há ao menos um motivo para ser aluno da Bukan. Hoje quero destacar um dos principais: Yaron Lichtenstein.

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Por que a Bukan?

Lembre-se do caso da restauração de uma pintura numa igreja espanhola: uma senhora, frequentadora da igreja, achou que a pintura original precisava de reparos, e decidiu ela mesma o fazer. O problema é que ela não tinha a menor capacidade para isso, e o resultado foi o desastre que se vê.

O krav-maga é criação de Imi Lichtenfeld, um homem extraordinário. Nascido na Eslováquia no começo do século XX, recebeu uma educação europeia clássica, refinada. Aliou a isso habilidades físicas que iam do boxe à valsa, do arremesso de facas à luta greco-romana. E, acima de tudo, Imi é uma ponte perfeita entre o espírito do budo japonês e a civilização ocidental: imenso admirador do caminho de Jigoro Kano, toda a vida frequentou tatames e associações de judo. Faixa preta na arte, Imi soube integrar a filosofia das artes marciais tradicionais japonesas ao modo de vida europeu e, depois, israelense.

Essa já seria uma vida grandiosa, mas Imi foi bem além. Organizou a resistência judaica nos guetos húngaros, lutou bravamente as guerras de sua época, sofreu um naufrágio heroico na costa do Egito, participou da resistência contra a ocupação inglesa de Israel e foi instrutor-chefe de defesa pessoal das Forças Armadas Israelenses. Depois de tudo isso, ainda criou o krav-maga.

Do mesmo modo que, estando doente, eu prefiro ser atendido pelo melhor médico à disposição, se eu tivesse que escolher uma escola para aprender sua criação, seria uma capitaneada por alguém extraordinário como Imi. Isso é nada mais que bom senso.

Mas claro, Imi não está mais entre nós, e não há ninguém extraordinário como ele. Ninguém.

E então, o que se vê fora da Bukan? Gente que não viveu um centésimo da vida de Imi alegando… ter “melhorado” o krav-maga. Veja, não precisamos achar que o krav-maga é uma arte perfeita (mas é) para desconfiar que, se ela precisa de mudanças, não serão pessoas de existência medíocre, que mal dominam um assunto ou habilidade (que dirá as dezenas de habilidades do Imi…), que terão a capacidade para melhorá-la.

Isso é nada mais que bom senso.

E o que se vê na Bukan? Um heroi de guerra israelense, um estudioso do espírito do budo, recusando-se a “melhorar” o krav-maga. Pelo contrário: Yaron é reconhecido pela intransigência na preservação do krav-maga como criado por Imi. Ele ensina o que Imi ensinou, e não se permite mudar sequer uma palavra do criador.

(Quem treina com o Yaron conhece sua obsessão em usar as palavras exatas para o ensino de cada movimento — lutando para traduzir o hebraico “avançado” de Imi para o seu português, inglês ou espanhol “avançados”.)

Por que a Bukan?

Basicamente porque aqui não tem velhinhas desastradas e cheias de ego, que acham que podem restaurar uma criação infinitamente acima de suas capacidades.

Federação Ultra Universal de Krav-Maga

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